terça-feira, 31 de janeiro de 2012

QUARESMA - Vamos nos preparar???

Mais uma vez, oportunidade privilegiada de acolher graças especiais reservadas unicamente a este tempo!

Mais uma vez... a ameaça de chegar ao final dos 40 dias sem ter cumprido os propósitos feitos na 4ª feira de Cinzas: Reconciliação, oração, jejum, penitência, esmola, conversão!

Por que será que todos os anos, de uma forma ou de outra, acabamos por não viver a Quaresma como gostaríamos? Tenho um palpite: porque não nos dispomos de verdade a vivê-la como Deus gostaria. Porque confiamos mais em nós do que nele.

Veja bem: quando iniciamos a Quaresma enchendo-nos de nossos bons e louváveis propósitos, acabamos por desanimar, desistir, talvez até, no 40º dia, nem nos lembrar direito do que nos dispusemos a fazer. Porque aqui - nessa situação infelizmente tão corriqueira em nossa vida espiritual – aqui, a força é nossa, o propósito é nosso, os planos são ... nossos! Resultado: desastre total. Continuamos os mesmos! Nada de ressurreição!

Que tal fazer diferente, este ano? Que tal examinar os últimos meses – ou anos! – de nossa vida e perceber em Deus o que Ele está tentando mudar em nós? Isso dá para saber não somente através do nosso caderno de oração (uma imensa ajuda!), mas especialmente pelo que Deus tentou fazer em nossa vida. Veja bem: vida exterior, mas também interior!

Podemos perguntar a Jesus, sabendo que Ele sempre nos responde: “Senhor, me faz perceber onde Tua graça está agindo – ou tentando agir – nos últimos tempos. Tens tentado me tirar do orgulho? Da vaidade? Do fechamento em mim mesmo? Do ressentimento com alguém? Da pouca oração? Da confiança demasiada em mim mesmo? Dos excessos? Da ridícula mania de achar que posso salvar a mim mesmo?”

A ação do Senhor, não nos esqueçamos, chama-se graça. É ela que muda nossa vida. É a ação do poder de amor do nosso Deus. É com ela que Ele bate à porta e pede, humilde: “Deixa-me entrar. Quero cear contigo!” Cabe a nós, como sabemos, o gesto simples, quase sem esforço, de girar a chave, baixar o trinco e abrir a porta.

Em nosso orgulho, porém, rejeitamos gestos simples. Achamos que abrir a porta para o Senhor que bate supõe que lhe tenhamos preparado aquela super ceia com os mais finos e caros manjares a exibir nossa grandeza. Pobres de nós! Nunca lhe abriremos a porta se estivermos à espera dos tais finos manjares. Só Ele no-los pode dar! Nunca encontraremos o Senhor se quisermos, primeiramente, “estar em condições”. É Ele e somente Ele quem, com sua graça, no-las dá!

Nossa auto-suficiência, aliada à soberba, pode até insinuar veladamente que essa história de graça, de porta, de batida, de ceia não passa de simbologia para nossa busca de conversão, de mudança, de “procurar ser melhor” e por aí vai. Que mania a gente tem de complicar as coisas, meu Deus!

Veja bem: nem você nem ninguém tem a mais ínfima capacidade de mudar sem a graça de Deus. Compreenda que é a graça de Deus que o transforma, não você mesmo! Tudo, mas tudo mesmo, que você algum dia realizou, mudou, cresceu, conseguiu de bom vem não de você, mas da graça!

Ihhhhhh! O que tem de gente que fica indignado ao ouvir isso! Claro, claro, sei que a graça supõe a natureza, que Deus não impõe sua vontade porque respeita sua liberdade, que Ele espera sua colaboração com a graça. Entretanto, me diga se não é verdade que ao ler que tudo, mas tudo mesmo, vem da graça de Deus, pode ter surgido lá no fundo do seu ser uma inquietaçãozinha? Um mal estar meio disfarçado, candidato a ser varrido para baixo do tapete do “não pensar”?

Mais uma vez, na Quaresma, o Senhor bate à sua porta. Esta porta cheia dos pregos pontiagudos e enferrujados do orgulho que rejeitam a submissão à graça. Porta lacrada pela auto-suficiência em todas as suas mínimas brechas. Travada com as barras de ferro da mentalidade da auto-salvação, aquela que tolamente acha que a gente se salva se fizer um monte de coisas boas a partir de nós mesmos.

Acontece que Jesus está acostumado a pregos, negações, barreiras e, insistente, compelido pelo amor, continua a bater. Uma criança, ao ouvir as batidas, irá correr até a porta, pôr-se na ponta dos pezinhos e puxar o trinco, sorrindo, acolhedora. Livre. Sem complicações. Movida pela graça, aberta à graça, sedenta da graça.

Para que essa Quaresma não seja mais um fiasco dos seus bons propósitos, comece desistindo de sua “força de vontade” e abrindo-se à graça. Comece, de preferência antes da Quaresma, seguindo o conselho de Santo Agostinho: "A confissão das más ações é o passo inicial." Depois do sacramento da Reconciliação, como resultado daquela revisão das graças de Deus não correspondidas do 6º parágrafo, tendo reconquistado, por pura graça, o mesmo estado em que você saiu no seu Batismo, corra para a porta e abra, livre, a sorrir, confiante, como uma criança.

Prepare-se para uma avalanche de graça. Em sua pródiga sabedoria, Deus reserva graças especiais para cada tempo litúrgico. Prepare-se, portanto, para uma grande avalanche. Como diz Santa Tereza, Deus se ofende quando lhe pedimos pouco. Ofende-se, portanto, quando esperamos pouco Dele. Ofende-se mais ainda quando não recebemos, não acolhemos, a fartura de graça que nos traz ao bater na porta.

Mais uma vez, Quaresma! Mais uma vez, o Senhor bate à porta! Abra, na ponta de seus pezinhos de criança e prepare-se para colher o fruto incomparável da Ressurreição.

Oração

“Jesus, dá-me a graça de viver esta Quaresma como Tu queres. Mostra-me o que Tu queres mudar em mim. Eis aqui minha primeira colaboração com Tua graça. Quero o que Tu queres. Abro a porta. Entra. Não tenho lá uma ceia muito fina, mas não quero fingir ser o que não sou. Sei que és Tu quem prepara a ceia, não eu. Dá-me a graça de comer e beber dos tesouros da Salvação conquistada por Ti na Paixão e Cruz. Eu a acolho. Acolho também a incomparável graça da Ressurreição que se segue à cruz. Tira o comando de minhas mãos. Guia-me com Tua graça. Amém”

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Os Pecados Capitais - para entender melhor

Hoje, em um programa jornalisco/humorístico de rádio famoso em Porto Alegre, ouvi alguns absurdos doutrinários comentados como verdades por um radialista. Esse radialista definiu o pecado da "Luxúria" como "desejo sexual", ao que todos os outros integrantes do programa concordaram. Infelizmente, algumas pessoas têm a mania de falar sem ter conhecimento algum a respeito do que falam. Muitos desses de que me refiro receberam uma catequese quando usavam fraldas, ou mesmo nunca receberam e, ainda assim, tentam falar daquilo que não sabem. É lamentável... Por isso, abaixo coloco um breve texto sobre os ditos pecados capitais para servir de estudo básico e para que não cometamos os mesmos erros, nós que somos cristãos e que, portanto, devemos conhecer minimamente a fé que professamos:

Os sete pecados capitais denominam-se dessa forma por originarem outros pecados. E ao contrário daquilo que certas denominações que se dizem cristãs afirmam, os pecados capitais possuem base bíblica e fazem parte do ensino moral cristão. São regras de libertação e não de aprisionamento do ser humano. Afinal, qual homem pode-se dizer livre quando na verdade é prisioneiro de suas próprias inclinações? E foi justamente para sermos homens e mulheres livres que Jesus foi sacrificado. Portanto, os pecados capitais são mais que hodiernos.

Origem

No século IV, são Gregório Magno e são João Cassiano definiram-nos como sete: orgulho, avareza, inveja, ira, luxúria, gula e preguiça. Até hoje na Igreja existe um consenso doutrinal sobre essa classificação.
No cotidiano, o católico pode lembrar desses pecados no exame de consciência que faz ao preparar-se para o sacramento da confissão. Eles servem de fonte de identificação para o defeito dominante que determina os outros, chamado de pecado hegemônico.
Os pecados capitais vão além do nível individual. Iniciando no coração da pessoa, eles concentram-se em determinados ambientes, instalando-se em determinadas instituições. A corrupção nas esferas do poder público pode ser identificada com a avareza, que aniquila o interesse generoso e correto para o desenvolvimento e os cidadãos da nação, em prol de benefícios financeiros próprios. Na realidade urbana, o aumento da violência relaciona-se à ira e à gula, esta representada pelo uso de drogas.
São Pedro alerta aos primeiros cristãos: “vigiai e sede sóbrios”, fortalecendo o espírito a fim de evitar que os pecados capitais tomem conta da vida das pessoas. “Estudar e entender os pecados capitais é um grande proveito para o progresso espiritual e santidade do católico”, afirma Pe. Roberto Paz, assessor de comunicação da Arquidiocese de Porto Alegre. Segundo ele isso acontece quando a pessoa volta-se para práticas penitencias que levam às virtudes dos cristãos.
“Sem humildade ninguém incorpora nenhuma virtude”, afirma o sacerdote. Ele lembra santa Teresa D’Ávila que considerava a humildade como o chão das virtudes. “Qualquer virtude sem humildade cai, pois fica no ar sem ter em que se prender, assim ela não cresce, tão pouco se desenvolve.”
Na vida dos santos encontram-se inúmeras atitudes de humildade. São Francisco de Assis, por exemplo, possuía um desprendimento tão grande que chamava a pobreza de irmã. Caso encontrasse pelo caminho alguém com uma veste em piores condições que a roupa que usava, não hesitava um segundo em trocá-la com seu próximo mais carente.

Que passagens bíblicas esclarecem a cada um dos pecados capitais? 

1. Soberba: relativo ao nosso orgulho, onde nos achamos melhor que todo mundo, não respeitando o próximo e passando por cima de tudo e de todos. Você se torna o seu próprio Deus pois a glória de tudo o que você faz sempre vai para você mesmo. O seu umbigo passa a ser o centro do universo. (Eclo 10,15; Romanos 3,27; Gálatas 6,4; Mateus 18,3) 

2. Avareza: relativo ao apego e ao amor ao dinheiro. O dinheiro passa a ser tudo para você e você acredita que com o dinheiro pode fazer tudo e comprar tudo, inclusive as pessoas. As pessoas passam a valer menos que seu dinheiro. Seu deus se torna o dinheiro. (Mt 6,24; 1Timóteo 6,10; Marcos 10,21-22; João 12,5-6) 

3. Luxúria: relativo ao apego aos prazeres sexuais. Não se trata do sexo em si ou do desejo sexual, (que é algo belo, um dom de Deus), mas de um apego desordenado aos prazeres sexuais funcionando como forma de aprisionamento do ser. Como exemplo de pecados originados da luxúria podemos citar: o adultério (traição) e a fornicação (sexo fora do casamento), cobiçar a mulher/homem do próximo, a masturbação, etc. (2Pedro 2,13; Levítico 18, 20.22; Êxodo 20,17; Mateus 5,27; 1Coríntios 6,15; Gênesis 38,9-10) 

4. Ira: quando brigamos a qualquer momento e com qualquer pessoa mesmo sem ter motivo. Quando guardamos mágoa ou rancor por alguém e não perdoamos as "70x7" (ou seja, sempre) que Jesus nos manda. (Mt 5,22; 21,12; 23,27) 

5. Gula: quando comemos até não agüentar mais, chegando até mesmo a passar mal, mas não necessariamente refere-se a comida. (Filipenses 3,19; Isaías 5,11) 

6. Inveja: quando queremos ter algo igual só porque nosso próximo tem. Relativo a cobiça e a todo tipo de inveja, inveja da mulher, inveja das amizades, inveja do emprego, inveja dos bens materiais, etc. (Sabedoria 2,24; Gênesis 4,1-16; Mateus 10,42-43; 20,1-16; Gênesis 37,4; 1Samuel 18,6-16) 

7. Preguiça: quando temos todo tempo do mundo a nossa disposição e mesmo assim deixamos de fazer as boas coisas em função de Deus e do próximo. (Eclesiástico 33,28-29; Provérbios 24,30-31; Ezequiel 16,49; Mt 20,6)

Adaptado de: http://www.universocatolico.com.br/index.php?/os-sete-pecados-capitais.html

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Regras de Fé

- Os católicos têm a Bíblia como regra de fé, entretanto não a “única regra de fé”. As primeiras coisas entram primeiro na religião dos católicos. Então, os católicos são guiados em seus julgamentos religiosos, primeiro pela Igreja; e segundo, pela Bíblia, como interpretada pela Igreja católica, para a qual o mundo está endividado pela existência da Bíblia cristã. 


As pessoas que usam seus “cérebros” corretamente vão para um médico quando estão doentes, e não usam a auto-medicação, para terem suas próprias prescrições. Este princípio é seguido pelos católicos que, tendo Jesus Cristo como o Médico Divino das almas, usam seus “cérebros” como o Médico Divino lhes ordenou que fossem usados, quando Cristo disse “ouça a Igreja”; a Igreja para a qual Ele delegou Sua autoridade quando Ele deu as Chaves a Pedro, com o poder de “ligar e desligar” (S. Mt. 16) que é a Igreja católica. 



Se a Bíblia é a “única regra de fé”, nomeie o texto no Novo Testamento que garante tal falsa conclusão que o padre renegado, Martinho Lutero, criou! Se você usasse seu “cérebro” em vez de suas emoções anti-católicas, você perceberia o absurdo de sua suposição. Cristo prometeu estar com Sua Igreja, e não a Bíblia, até o fim do mundo. Os funcionários da Igreja cujo “cérebro” você repudia, são compostos de padres a quem S. Paulo chama de Embaixadores de Cristo (II Cor. 5,20). Repudiá-los é repudiar a Pessoa a quem eles representam. . 



É lógico que os apóstolos não dependeram de uma Bíblia cristã como um guia religioso e moral porque ela ainda não existia. De fato, houve somente um dos doze apóstolos que pôde ter visto os escritos que formaram Novo Testamento. Este foi S. João, pois os outros onze tinham ido para a recompensa eterna antes que S. João escrevesse seu Evangelho, que a Igreja católica declarou ser inspirado por Deus. 



A Igreja católica veio à existência antes que uma linha do Novo Testamento fosse escrita: os apóstolos pregaram o Cristo crucificado; S. Pedro converteu 3000 judeus; o Concílio de Jerusalém foi reunido e a lei judaica foi ab-rogada, antes que uma única linha do Novo Testamento fosse escrita. Antes que S. João escrevesse seu Evangelho, a Igreja católica celebrou seu jubileu de ouro; e S. Paulo poderia dizer que a fé de Cristo tinha sido proclamada por toda parte no mundo (até então conhecido - Rom. 1,8). 



Você diz que a Bíblia é a Palavra de Deus, mas que evidência você tem, ou qualquer outro protestante que rejeita a autoridade da Igreja católica, para provar tal afirmação? Logicamente, os escritos em si não podem provar que eles foram inspirados por Deus. Só a resposta católica para esta questão pode estar no teste de raciocínio de direito, isto é: Eu acredito que a Bíblia é a Palavra de Deus porque a Igreja católica, por sua Divina autoridade, disse assim no Concílio de Cartago (397 d.C.), com a confirmação do Papa, quando ela selecionou os escritos que foram inspirados por Deus, para formar o cânon cristão das Sagradas Escrituras. A racionalidade disto foi reconhecida por um professor protestante, Dr. Marcus Dods, que veio da Escócia aos EUA para dar uma série de conferências que foram publicadas em um livro chamado "A Bíblia, Sua Origem e Natureza” (1940). Ele diz (pp. 31-32): 



“Se você pergunta para um romanista por que ele aceita certos livros como canônicos, ele terá uma resposta perfeitamente inteligível. Ele aceita estes livros porque a Igreja o licita a fazer assim. A Igreja determinou quais livros são canônicos e ele aceita a decisão da Igreja. Se você pergunta para um protestante o porquê dele acreditar que apenas esses livros que constam na Bíblia são canônicos, e não mais nem menos, creio que 99% dos protestantes seria incapaz de oferecer uma resposta satisfatória para o homem razoável. Os protestantes desprezam os romanistas porque estes confiam na autoridade da Igreja, mas o protestante não pode lhe dizer em que autoridade que ele confia. A senha protestante é: ‘a Bíblia, a Bíblia inteira e nada mais que a Bíblia’, mas quantos protestantes poderiam deixar claro que os livros que eles têm em suas Bíblias são os livros canônicos e nada mais que a Bíblia"? 



S. [João] Crisóstomo, o arcebispo católico de Constantinopla, foi o que deu o nome à "Bíblia". Certamente, S. Agostinho, o bispo de Hipona, não estava deixando de usar seu cérebro quando disse: "Eu não acreditaria na Bíblia se não fosse pela autoridade da Igreja católica”. 



Por David Goldstein (Obs: o autor é ex-judeu convertido ao catolicismo)



Tradução: Stephen Adams 



Fonte: www.veritatis.com.br

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Deus é um delírio?

- O fundamentalismo ateísta tem na recente publicação de Richard Dawkins, "Deus, um delírio", biólogo em Oxford, seu mais novo defensor. O autor vê a religião como uma espécie de neurose coletiva, fruto de uma debilidade intelectual que, além de inibir, coíbe o desenvolvimento científico. Nutre ainda o autor a pretensão de que sua obra possa tornar ateus, pela via argumentativa, seus leitores, que dela se aproximarem com "isenção".Donde, pois, a importância de levar a todos uma reflexão que os ajude a enfrentar tais "argumentos", mostrando ser falsa a "cientificidade" de grande parte dos questionamentos levantados por Dawkins, o que compromete de algum modo toda sua obra, e, conseqüentemente, a seriedade científica do autor. Em refutação a alguns dos argumentos nela enunciados, Alister MacGrath e Joanna McGrath, ambos pesquisadores de Oxford, publicaram um opúsculo - "O delírio de Dawkins"- no qual questionam a autoridade e a sanidade do colega de trabalho. Afirmam: "Deus, um delírio é uma obra teatral, em vez de acadêmica: uma investida feroz e retórica contra a religião"; e ainda: "seu autor parece ter feito a transição de um cientista, com apaixonada preocupação com a verdade, para um grosseiro propagandista anti-religioso, que revela claro descuido pela evidência". Finalizam: "o ateísmo deve estar mesmo em uma situação lastimável, se seu principal defensor precisa depender tão ostensivamente - e tão obviamente - do improvável e do falso para sustentar seu argumento".



Deus, um delírio não propõe o novo ao afirmar que a idéia de Deus é como um vírus que infecta mentes saudáveis; seu autor já o havia dito nos anos 1990. O casal MacGrath, no entanto, reflete: "os vírus biológicos não são apenas hipotéticos: eles podem ser identificados, observados e sua estrutura e modos de operação determinados". Assim sendo, a teoria de Dawkins parece carecer de embasamento empírico; nada mais contraditório para um cientista moderno. Se não bastasse o abuso de falácias que se multiplicam ao longo da obra, o biólogo de Oxford ataca o Deus cristão diretamente e sem compostura alguma: "o Deus do Antigo Testamento é, talvez, o personagem mais desagradável da ficção", adjetivando-o como segue: "ciumento e orgulhoso; controlador mesquinho, injusto e intransigente; genocida étnico e vingativo, sedento de sangue; perseguidor misógino, homo-fóbico, racista, infanticida, filicida, pestilento, megalomaníaco, sado-masoquista, malévolo". Resume e define-o como "insípido" e "enjoativamente nauseante".

Falta a Dawkins a perspectiva filosófico-teológica quando migra do campo específico das ciências empíricas para a área das questões filosóficas e religiosas. Levanta ainda hipóteses gratuitas sobre a atuação de Jesus. Para ele Jesus, por fidelidade às tradições judaicas, teria sido hostil a algumas pessoas, especialmente os forasteiros e estrangeiros. Dawkins afirma: "Foi Paulo quem inventou a idéia de levar o Deus judeu aos gentios"; e finaliza com desdém: "Jesus teria se revirado no túmulo se soubesse que Paulo estava levando seu plano aos porcos". Educadamente Alister MacGrath e Joanna McGrath observam: "a excessiva confiança de Dawkins na retórica, em vez de firmar-se na evidência, indica claramente que algo está errado em seu argumento", e perguntam, em tom afirmativo: "não seria o ressurgimento inesperado da religião capaz de convencer muitos de que o ateísmo em si é fatalmente deficiente como visão de mundo?"

Enganam-se os que pensam que o "delírio" de Richard Dawkins é capaz de silenciar as pessoas de fé. Além dos colegas de trabalho, outro baluarte da pesquisa científica se manifesta contra esta espécie de fundamentalismo ateu. Francis S. Collins, biólogo e diretor do projeto que decifrou o código genético humano, em "A linguagem de Deus", não apenas apresenta, a partir da ciência, indícios da existência de Deus, como narra sua conversão do ateísmo para a fé em Deus. Mais importante: não apenas cria uma ponte de diálogo entre a religião e a ciência, como também mostra a harmonia entre elas.

Longe de silenciar os lábios e os corações dos que crêem em Deus - como o deseja Dawkins -, o avanço das ciências faz brotar com mais intensidade ainda, no coração do mundo, a admiração e o louvor da sabedoria divina impressa na criação, obra amorosa de Deus confiada ao ser humano, sua criatura predileta. São muitos os cientistas que, em razão da inteligibilidade do universo, condição de possibilidade da própria ciência, se abrem para a fé em Deus Criador. Concluo com a palavra do Livro da Sabedoria sobre os que negam Deus: "foram incapazes de conhecer Aquele que é a partir das coisas visíveis" - objeto de pesquisa -, "e, olhando suas obras, não reconheceram o artífice"(Sab 13,1). E "Os céus narram sua glória"(Sl 19,1).

“É possível comungar estando em pecado grave?”

"Por que o Deus do Antigo Testamento é tão sanguinário?"