Ninguém gostaria de viver tendo apenas uma pessoa como amiga, pois, sabemos que quanto maior o nosso círculo de amizades, tanto maiores serão as oportunidades de aprendizado a partir da vivência com cada um deles. Às vezes, preferiríamos viver numa ilha, isolados de tudo e de todos, especialmente, quando experimentamos as asperezas dos desentendimentos, comuns e pertinentes, em nossas amizades.
Quem se abre aos relacionamentos deverá estar sempre disposto a resgatar a saúde do convívio, mesmo quando inúmeras situações indiquem, como válvula de escape, a facilidade da fuga.
Em todos os nossos compromissos não viveremos apenas as alegrias das festas e o calor dos abraços saudosos daqueles que nos amam e consideram a nossa presença importante, mas também, as dificuldades. Ainda que houvesse muitos momentos de júbilo em nossas convivências e confraternizações, seguramente, haverá, também, momentos em que preferiríamos romper com a amizade e fugir do mapa.
É verdade que somente nos desentendemos com aqueles que realmente convivemos e, de maneira especial, quando as coisas não vêm ao encontro das nossas cômodas intenções. Em certas ocasiões, surge ainda o desejo de pegar um dos nossos amigos pelo pescoço, chacoalhá-lo e jogá-lo contra a parede. Certamente, tal vontade teria de ser controlada, já que esses sentimentos tendem a desaparecer com a mesma velocidade com que emergiram no calor dos ânimos exaltados.
Tal como as ondas do mar roubam as areias sob os nossos pés, as desavenças, impaciências, irritações, invejas solapam os alicerces das nossas amizades. Penso não existir coisa mais descabida numa relação pessoal que o ato de "dar um gelo" ou, como alguns preferem dizer, "matar fulano no coração", isto é, esquecê-lo.
Pelos motivos acima apontados, muitas vezes, ferimos os sentimentos daqueles com quem convivemos; talvez, na mesma intensidade de uma agressão física.
Ignorar, mudar de calçada ou desconsiderar a presença de alguém, que antes fazia parte de nosso círculo de amizade, faz com que retrocedamos ao tamanho das picuinhas dos seres mais ínfimos que podemos imaginar. Seríamos injustos se comparássemos tais atitudes ao comportamento infantil; pois na pureza peculiar de crianças sabemos que logo após seus acessos de raiva, instantaneamente voltam à amizade sem nenhum ressentimento ou mágoa.
Para nós adultos, reviver a aproximação com alguém que tenha nos ferido, não é uma atitude fácil. Ninguém é superior o bastante para estar livre dos erros e deslizes contra a harmonia de suas amizades. Podemos ser vítimas, também, de nossos próprios acessos, que refletidos em atos potencializados pela ira, descontentamento ou ciúme, tenham decepcionado um amigo com nossas grosserias ou indiferenças.
O restabelecimento desses abalos em nossas relações, ainda que não seja fácil, poderá ser possível quando tomarmos a iniciativa da reaproximação, por exemplo, a partir das atividades ou coisas que eram vividas em comum.
"Aquele que não errou que atire a primeira pedra..." Assim, nos colocando na mesma condição – sujeito aos mesmos erros – justificaremos a atitude do destrato sofrido, não como sendo um comportamento próprio do nosso amigo, mas como resultado de uma faceta ainda desconhecida dentro do nosso convívio que precisará ser trabalhada.
Deus abençoe o seu esforço,
Dado Moura
(Comunidade Canção Nova, Fundação João Paulo II)
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