Sempre recebo muitos pacientes que dizem ter me procurado por que sou Católico ou Cristão. Isto me deixa estremamente preocupado, pois a questão do profissional de saude na qual devemos buscar, não deve estar associado à sua escolha religiosa. O que vale na busca por um profissional, é a sua competência e exercício ético da profissão.
Nestes dias, recebi uma paciente que estava me procurando porque viu-me na TV Canção Nova, no Programa Trocando Idéias.
Ela acreditava que eu fosse dar-lhe orientações espirituais. Perguntei para ela se ao procurar o seu Ginecologista, ela perguntou se ele era Católico ou Cristão. “Lógico que não perguntei!”, disse ela com firmeza. -Mas por que você necessita que o psicólogo seja Católico? perguntei. “- porque o Psicólogo não sendo ele pode direcionar as minhas condutas conforme o que ele acredita “, respondeu-me.
Esta paciente estava sendo sujeita a um tratamento de controle de hormônio artificial, na forma de anticoncepcional, sem ao menos ter realizado uma curva hormonal para saber de suas reais necessidades. Ela disse-me que também era para evitar filho.
Veja o paradoxo da incoerência. O Psicólogo precisa ser Católico se não vai direcionar comportamentos que julga fora de suas escolhas religiosas, mas o Ginecologista faz tudo o que a Igreja não indica e a paciente se quer percebe.
Conheço poucos Médicos Católicos que procedem na clínica conforme as orientação da Igreja Católica, e é bem verdade que os católicos que seguem as orientação da Igreja nas áreas da sexualidade, sociedade e política, são bem poucos. É o fenômeno que o Papa Bento XVI observou na sua última vinda ao Brasil e que deu o nome de “Catolicismo brando”.
A necessidade de se procurar Psicólogo Católico ou Cristão está mais associado a idéia de que a Psicologia é uma profissão mais de escuta e orientação, e que interfere em valores morais. Tanto é verdade, que no Brasil são muitos os que se intitulam Psicanalistas ou Psicoterapeutas sem terem graduação em Psicologia ou serem registrado no CRP. Já com a Medicina, esta é uma realidade superada.
Lembram que na época do Presidente Collor havia um Ministro do Trabalho, o Magri, que iria acabar com o diploma de Psicologia e Jornalismo porque ele achava que são profissões em que muitos já nascem com o dom e poderiam exercer sem estudar ?
Outro fator que influencia nesta demanda da busca por Psicólogos Cristãos, é que no exercício dos Sacerdotes, há a escuta de orientação e aconselhamento, daí na religião muitos acreditarem que com a Psicologia deveria ser o mesmo.
Eu já fiz análise com Psicólogos ateus, que não praticam religião alguma, e posso textemunhar que foi ótimo, pois trabalharam uma técnica e uma teoria. Foram profissionais e eram bons. Respeitaram minhas escolhas porque exercíam a ética profissional.
Com certeza conheço muitos Psicólogos que se intitulam Católicos ou Cristãos, que eu não teria coragem de indicar para ninguém, pois sei que confundirão e manipularão para suas escolhas.
Olha aí o número de clínicas no Brasil exercendo a Psicologia com elementos da religião, desde Católicos até espiritistas. Esta é uma prática condenável pelo sistema Conselho Federal de Psicologia. Pois Psicologia é Ciência e Profissão. Não se deve acreditar em um tratamento Psicológico, pois devemos acreditar em Deus. Na Psicologia devemos constatar que o procedimento é eficaz. Acreditar é diferente de constatar.
A questão é : O profissional precisa saber o que faz, ter domínio sobre as questões éticas de sua profissão que são regidas pelo código de ética no seu Conselho. E ponto.
Há 20 anos atuo como Psicólogop Clínico e sempre tive uma Clínica bem sucedida em quantidade e qualidade de resultados. Confirmo que 90% dos pacientes que me procuram por que sou Católico ou Cristão, estão em busca de um milagre ( da qual não posso fazer), e não ficam em tratamento, pois desejam pressa nos resultados.
Pessoalmente creio que um cristão que exerça a psicologia tenha melhores condições de ajudar um paciente cristão, não só pelo respeito ético da escolha religiosa do paciente, respeito esse que independe da condição religiosa, como também pela sua própria vivência de fé.
Infelizmente muitos não respeitam essa escolha e sutilmente tentam esvaziar a fé do paciente ou o “desmontam” sem conseguir ajudar a pessoa a se” reformatar ” novamente.
Também não creio que o simples fato do profissional ser cristão seja a garantia de um bom serviço.
O fundamental é que exista respeito,ética e a percepção da dimensão religiosa de cada pessoa.
Aliás,essa dimensão por si só é um grande apoio na vida dos cristãos necessitados de apoio psicologico.
Um bom psicólogo saberá colocar essa informação a favor do paciente e ajudá-lo a superar sua dificuldade, afinal, seu papel é esse.
Gerson Abarca, Psicólogo.
Fonte: http://www.comshalom.org/blog/carmadelio/8247-psicologo-cristao-ou-cristao-psicologo#comment-9137
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